O Duo Dissonante entre a Voz do Autor e a Voz do Narrador em Vida e Morte de M. J. Gonzaga e Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto
José Osmar de Melo
Resumo: O ensaio Duo dissonante entre a voz do autor e a voz do narrador em Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá e Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, tem como escopo demonstrar a consciência com que Lima Barreto lida com a linguagem e usa o discurso polifônico, o humor e a ironia como elementos fundamentais para desmistificar a narrativa como representação da realidade, apresentando-a como resultado estético de uma poiesis, que valoriza, sobretudo, o processo artístico e metalinguístico de construção do texto literário, em cujos meandros o autor explora simultaneamente dois planos do discurso: o enunciado e a enunciação.
No primeiro, o autor/narrador ridiculariza a burocracia, caricaturiza políticos corruptos, expõe os bastidores da imprensa e critica os costumes burgueses e o arrivismo dos bacharéis, mediante o humor, a ironia ou até mesmo o sarcasmo, com a pretensão de fazer refletir e provocar mudanças.
No segundo, Lima Barreto destrinça, mediante a ironia romântica, os artifícios dos procedimentos da construção textual para revelar ao leitor que sua arte se constitui como um consciente e autoconsciente exercício de linguagem, fundamentado no lúdico (des)velamento das artimanhas da criação ficcional que se confirma como jogo textual conscientemente elaborado como arte.