Leitura para Homens: Pornografia, Naturalismo e Modernidade na Belle Époque
Leonardo Mendes
Resumo: Este livro convida o leitor a revisitar o naturalismo brasileiro a partir de um ponto cego da historiografia: o universo da chamada "leitura para homens", expressão que, na Belle Époque, classificava obras tidas como licenciosas ou moralmente arriscadas. Em vez de tratá-las como curiosidades obscuras ou desvios de mau gosto, o autor demonstra que esses livros formaram um dos primeiros circuitos de literatura de massa no país, circulando entre bancas, livrarias populares e páginas de jornal, e moldando hábitos de leitura. Nesse cenário, Émile Zola, frequentemente acusado de imoralidade; Coelho Neto, publicando sob pseudônimos em jornais; e Figueiredo Pimentel, autor do best-seller O aborto, aparecem lado a lado, não por coincidência, mas por pertencerem a um mesmo ecossistema literário e comercial, onde erotismo, ciência, sátira e observação do cotidiano se entrelaçavam. Trata-se de repensar o naturalismo como um campo plural, disputado e vivo, que inclui o escândalo, o desejo e o corpo como partes constitutivas da literatura moderna no Brasil. Ao reconstituir essas redes de produção e recepção, o livro revela uma modernidade literária alternativa, apoiada não no romance realista burguês aclimatado ao Brasil, mas em narrativas breves, eróticas e populares.